No cenário inconstante do âmbito profissional, a possibilidade de confrontar a demissão é inerente à experiência do emprego, uma situação inevitável que poucos profissionais conseguem evitar ao longo de suas trajetórias. Ainda que reconhecida como um elemento intrínseco ao ciclo de carreira, a imprevisibilidade de um desligamento abrupto é sempre recebida com uma carga emocional desafiadora, e muitas vezes, de proporções desoladoras. Um aspecto particularmente cruel desse processo reside no impacto profundo que pode infligir sobre a autoestima e a autoconfiança do indivíduo, uma vez que o universo profissional desempenha um papel primordial na moldagem de sua identidade e autoapreço.
Ao confrontar a notícia
desconcertante da demissão, é frequente que uma fase inicial de negação se
estabeleça por um breve lapso de tempo, servindo como uma espécie de escudo
contra a realidade sombria que emerge. Progressivamente, uma avalanche de
emoções e reflexões invade o pensamento. A família, se for o caso, surge de
maneira proeminente e a necessidade de comunicar a situação à família pode
evocar uma mistura de pânico misturada a um resquício de constrangimento.
Contudo, este é um estágio que, por mais penoso e desconfortável, não pode ser
adiado, sobretudo para evitar que a família seja informada através de outras
fontes. A comunicação ao cônjuge e aos filhos pode ser uma jornada dolorosa,
mas sem dúvida, um alívio inestimável.
Conforme este capítulo se
desenrola, a fase de negação cede espaço à imposição gradativa da realidade. É
neste momento que o questionamento das competências se transforma em um pensamento
constante. Interrogações acerca das alternativas profissionais não percorridas
insinuam-se, alimentando a semente da insegurança e dando vida a um ciclo de
autorreflexão que resiste a abandonar o palco da mente. A autoestima,
anteriormente enraizada, cede à nebulosidade de incertezas, obscurecendo a
própria visão das aptidões individuais.
Uma dimensão adicional que ganha
destaque é a percepção da demissão como uma rejeição pessoal. Mesmo que as
razões se revelem tangíveis, seja por motivos econômicos ou estratégicos
inerentes à empresa, a percepção de rejeição irrompe invariavelmente. Esse sofrimento
pode gerar sentimento de culpa, mesmo quando o indivíduo não exerce controle
direto sobre as causas do desligamento. A comparação com colegas que
conservaram seus postos de trabalho ou, numa veia ainda mais dolorosa, com
aqueles que aparentam galgar patamares ascendentes em suas trajetórias profissionais,
inflama a autocrítica, ferindo ainda mais a autoestima já fragilizada.
Outro desdobramento notório da
demissão manifesta-se na deturpação da imagem que o indivíduo tem de si mesmo.
A autoimagem, outrora harmoniosa, passa a ser modelada pelo reflexo da
experiência da demissão. Conquistas passadas e traços pessoais dignos de apreço
são eclipsados pelo peso dessa vivência. O indivíduo passa a contemplar-se
predominantemente por meio dessa ótica, fomentando a subvalorização de suas
capacidades e habilidades.
Com a passagem do tempo, os
questionamentos quanto à adaptabilidade a funções semelhantes em futuras
empreitadas profissionais dão ensejo a uma inquietude permanente acerca da
viabilidade de se reinserir no mercado de trabalho. O pânico sedimenta-se
quando a reflexão toca no âmbito pragmático das finanças pessoais e familiares.
O grau de agonia oriundo dessa constatação varia, oscilando em função do grau
de preparação prévia do indivíduo para suportar um período desprovido da
receita outrora garantida.
Toda essa jornada de vivência
confere uma dor profundamente penetrante, comparável àquela advinda da perda de
um ente querido. Revela-se um trauma de proporções notáveis, que ecoa nos
recessos mais íntimos do ser.
Não obstante a tumultuosa carga
emocional associada à experiência da demissão, uma grande parcela dos
indivíduos descobre, dentro de si, a capacidade de reerguer-se e inaugurar um
processo gradual de recuperação. À medida que o tempo transcorre e os impactos
emocionais iniciais cedem, o indivíduo pode reconstruir a sua autoestima e
confiança, restaurando um senso de controle sobre sua trajetória profissional.
À medida que a autocrítica e o
autoquestionamento diminuem, o indivíduo pode iniciar uma exploração de novas
oportunidades. E então, num lapso quase mágico, a chance de uma nova
contratação emerge. Ao ser selecionado por outra empresa, uma onda de emoções
positivas pode inundar a mente. Essa conquista não apenas corrobora suas
habilidades, mas também atesta que a demissão não conferiu veredito definitivo
acerca de seu mérito profissional.
À medida que o tempo avança, o
indivíduo percebe que a demissão constitui somente um capítulo de sua
narrativa, não o enredo inteiro. A autoestima, outrora fragilizada, inicia um
processo de renovação, guiada por um senso de propósito revitalizado e pela fé
na própria capacidade de enfrentar as oscilações do universo profissional.
Embora a experiência da demissão
possa extrair uma dor contundente, o processo de reestabelecimento no seio de
outra organização, um passo inevitável no fluxo da vida, proclama que a
demissão, afinal, é um fenômeno intrínseco e passageiro no curso da carreira,
incapaz de definir as competências e habilidades de um indivíduo. Uma página
virada que, ao ser consumada, deixa a marca de lições aprendidas e experiências
incorporadas, todas enriquecendo e aprimorando o âmago de um ser humano e
forjando um profissional ainda mais integral e completo.
Muito bom Ricardo
ResponderExcluirNão sabia que vc escrevia tão bem assim !
Parabéns !!