Considere uma hipotética situação em que o relógio do mundo perdeu o controle e, numa única noite, avançou o tempo em algumas décadas. Todos adormecemos no mundo que conhecemos e acordamos em uma realidade completamente nova.
Neste novo cenário, a inteligência
artificial (IA) suporta quase que completamente todas as atividades humanas. Os
sistemas de IA são responsáveis por gerenciar a produção industrial, a agricultura,
o transporte, a medicina, a educação e até mesmo a arte. A inteligência
artificial (IA) avançou a ponto de substituir quase todos os empregos
existentes no mundo. As fábricas são automatizadas, os carros são autônomos, os
serviços são prestados por robôs. O trabalho humano tornou-se em grande parte obsoleto,
uma vez que a IA pode realizar tarefas com eficiência e precisão inigualáveis. Máquinas
e algoritmos executam tudo, desde cirurgias complicadas até a criação de obras
de arte impressionantes.
Porém, a população em geral está
desempregada e sem dinheiro. A maioria da população está na pobreza, sem acesso
a bens e serviços básicos. A situação é caótica. A economia está em colapso. Há
um excesso de produção, mas ninguém pode comprar. Supermercados, fábricas e
armazéns estão repletos de alimentos, roupas, eletrônicos e outros produtos,
mas as pessoas não podem comprá-los. A automação tornou a produção tão
eficiente que a oferta supera em muito a demanda. Os supermercados estão cheios
de comida, mas as pessoas estão morrendo de fome.
A concentração de poder e
recursos financeiros é esmagadora, poucos super-ricos detêm um controle absoluto
sobre a economia global. Esses magnatas da inteligência artificial e das
tecnologias avançadas acumularam uma riqueza incomensurável à medida que suas
empresas lideraram a revolução da automação e da IA. No entanto, mesmo nas
fileiras da elite financeira, a situação tornou-se alarmante. O paradoxo da
abundância e da escassez é evidente. Embora a produção industrial e a
disponibilidade de produtos sejam incomparavelmente maiores do que nunca, as
pessoas não têm meios financeiros para adquiri-los. O consumo e a demanda desapareceram
e os lucros estão sob ameaça mortal.
Enquanto a economia mergulha na incerteza
e a ordem social entra em colapso, as ruas se tornam um cenário de terror.
Saques, manifestações violentas e crimes se tornam uma ocorrência comum. Supermercados,
lojas e empresas são alvos de saques, com as pessoas desesperadas em busca de
itens essenciais que não podem mais comprar. O aumento da criminalidade agrava
a sensação de insegurança e instabilidade.
Os robôs das forças de segurança
estão sobrecarregados, lutando para manter a ordem pública em um ambiente de
caos crescente. As manifestações e os protestos tornam-se comuns, com pessoas
exigindo soluções para a crise econômica e a crescente desigualdade. A
sociedade está à beira do colapso, com a confiança nas instituições
governamentais e na elite financeira desmoronando rapidamente.
A situação coloca políticos e
magnatas da IA sob intensa pressão. Eles reconhecem que o status quo é
insustentável e que uma ação decisiva é necessária para evitar um colapso total
da sociedade. Diante do colapso econômico iminente, os líderes políticos e
empresariais chegam a um acordo que parece ser a única saída viável:
estabelecer uma pensão universal para todos, independentemente de trabalharem
ou não. Essa pensão visa a fornecer um mínimo de recursos para as pessoas,
permitindo-lhes comprar bens e serviços básicos e, assim, reiniciar a economia.
Embora o cenário hipotético
descrito seja uma visão extrema e especulativa do futuro, ele nos convida a
refletir sobre os desafios e oportunidades que a automação e a IA apresentam. É
possível e até provável que essa narrativa se torne realidade, não da noite
para o dia, mas de forma gradual e crescente.
A automação e a IA já estão
transformando muitos setores da economia e da sociedade, e a velocidade dessas
mudanças está acelerando. O deslocamento de empregos por máquinas e algoritmos
é uma realidade que muitos trabalhadores já estão enfrentando, e essa tendência
deve continuar a se intensificar.
Para evitar este futuro
distópico, governos, empresas e sociedade buscarão adotar uma abordagem
proativa. Isso inclui o desenvolvimento de políticas e regulamentações que
promovam a justiça econômica, a educação e o treinamento para capacitar as
pessoas a trabalhar lado a lado com as máquinas, e a exploração de novos
modelos de negócios que compartilhem os benefícios da automação de forma mais
ampla. Porém, são remotas as perspectivas de que poderemos capacitar as pessoas
no mesmo passo em que a IA e a automação se desenvolverão.
Este modelo de organização
social, que se baseia na ideia de que a maioria das pessoas ganha a vida
através do trabalho, está enfrentando desafios significativos. Diante dessas
mudanças iminentes, o estabelecimento de uma política de pensão universal
surgirá como uma proposta interessante. Essa política garantiria que todos os
cidadãos recebessem uma remuneração regular, independentemente de estarem
trabalhando ou não. Em vez de depender inteiramente do emprego para sua subsistência,
as pessoas teriam um suporte financeiro contínuo.
A introdução de uma pensão
universal pode ser vista como uma estratégia de transição, criando uma ponte
entre o modelo de organização social atual, onde o trabalho desempenha um papel
central na vida das pessoas, e um futuro que se vislumbra, no qual as máquinas
desempenharão um papel ainda mais proeminente na produção e na prestação de
serviços. É importante notar que muitos países, incluindo o Brasil, já adotam
políticas de distribuição de renda por meio de pensões. Essa tendência tem o
potencial de crescer, em vez de diminuir, à medida que nos adaptamos às
mudanças tecnológicas e econômicas.
No entanto, a implementação de
uma pensão universal também levanta desafios financeiros e políticos
significativos. Seria necessário determinar como financiar esse sistema de
apoio financeiro, garantindo que seja sustentável a longo prazo. Além disso, questões
relacionadas à justiça e à igualdade teriam que ser cuidadosamente
consideradas, para garantir que todos os cidadãos tenham acesso igual a essa
fonte de renda.
Em resumo, a perspectiva de uma
transição para um futuro em que o trabalho tradicional seja menos prevalente
devido à automação e à IA torna a implementação de uma pensão universal uma
proposta digna de consideração. Essa política poderia representar uma tentativa
de adaptar nosso modelo de organização social às mudanças tecnológicas em curso,
fornecendo segurança econômica e promovendo uma sociedade mais equitativa.
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