Sempre me perguntei se sou uma pessoa moral ou apenas alguém condicionado a temer as consequências de seus atos. Quando me vejo diante de uma tentação, a voz que me impede de ceder fala com o tom da minha consciência, mas até que ponto essa voz é realmente minha? Será que é apenas um eco das normas que absorvi ao longo da vida, um reflexo dos olhares reais ou imaginários que me acompanham?
Se a moralidade fosse um instinto puro, algo
inato, talvez não houvesse dilema. Mas se fosse apenas medo disfarçado, então o
que chamamos de virtude seria apenas a covardia vestida de honra. Tento
observar minhas próprias decisões de fora, como se eu fosse um estranho a mim
mesmo, mas a questão continua escorregadia. Quando escolho agir corretamente
sem ninguém para testemunhar, isso prova que sou moral? Ou apenas demonstra que
internalizei um observador invisível, um juiz que me acompanha mesmo quando
estou só?
O que me intriga é que nem sempre tememos as
mesmas consequências. Alguns evitam um ato por medo da punição, outros por
receio de perder a própria autoimagem, e há ainda aqueles que buscam
reconhecimento, como se a moralidade fosse uma moeda social. Será que a
verdadeira moralidade existiria apenas quando a decisão correta é tomada sem
expectativa de benefício algum, nem externo nem interno?
Gostaria de acreditar que há algo genuíno na
moralidade, algo além do medo e da convenção. Mas e se tudo não passar de um
hábito enraizado, um condicionamento tão profundo que sequer percebemos suas
amarras? O fato de me fazer essa pergunta já indica que há dúvida, e onde há
dúvida, há fissuras. Se um dia eu pudesse me livrar completamente do medo,
ainda assim faria as mesmas escolhas? E se a resposta for incerta, então o que
restaria da minha moralidade?
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