As reflexões sobre o que nos aguarda após a última despedida são tão antigas quanto a história da humanidade. Elas atravessam diferentes culturas, filosofias e épocas, como um rio que flui incessantemente por essa paisagem da existência. No entanto, neste momento, não é minha intenção penetrar os reinos desconhecidos além da vida terrena, nem tecer conjecturas metafísicas. Em vez disso, quero compartilhar meus desejos e esperanças para o que ocorrerá neste mundo após meu último suspiro.
Quanto à cerimônia final, desejo
que seja suave como uma brisa da primavera, breve como um raio de sol num dia
de chuva. Não desejo ser motivo de tristeza, mas sim de serenidade, uma
lembrança que não causa sofrimento aos corações. Se lágrimas fluírem, que sejam
lágrimas de gratidão pela jornada compartilhada. E se a música fizer parte
desse momento, o que terá meu apreço, que seja uma melodia alegre, uma
celebração da vida que vivi, sem notas de melancolia.
Em relação aos restos do que um
dia fui, não dou grande importância a este tema. A cremação é minha preferência
pessoal. Quanto às cinzas resultantes desse processo, sugiro que as deixem se
misturar à natureza, como uma parte do ciclo eterno da vida.
Os objetos pessoais que me
acompanharam na jornada da vida, esses, ofereço ao destino. Que encontrem novos
donos, novas histórias a contar. Não desejo que se transformem em lembranças
nostálgicas, mas sim em símbolos de renovação. Todos os bens que possam ter
valor, confio-os à minha amada companheira, para que ela escolha o que fazer
com eles, mas tenho a esperança de que ela os transforme em momentos de prazer
e contentamento.
No entanto, o que verdadeiramente
importa são as memórias que deixarei para trás. Que minha partida seja uma
homenagem às lembranças que continuam a brilhar, como estrelas cintilantes no
céu noturno. Pois as lembranças são a substância da nossa história, os
capítulos da nossa jornada, os fios que tecem o tecido da nossa existência.
Desejo que, ao lançarem o olhar ao
passado, meus adorados filhos encontrem um jardim de memórias adornado com
momentos de pura alegria. Que recordem as risadas que ecoaram como concertos de
felicidade, enchendo nossos corações de calor e amor. E que essas experiências
únicas que compartilhamos juntos sejam como pérolas preciosas em suas jornadas
pela vida.
Não almejo lágrimas de tristeza
em meu nome, mas sim de gratidão pelas bênçãos que o Divino nos concedeu. Cada
desafio que enfrentamos, cada vitória que celebramos, cada lágrima de superação
e cada sorriso de conquista, tudo isso foi um presente divino que enriqueceu
nossa trajetória.
Que minha ausência não seja um
vazio, mas sim um convite para celebrar a vida que compartilhamos. Afinal, a
vida é uma dádiva preciosa que merece ser honrada e valorizada a cada instante.
Que a lembrança de mim seja uma luz que brilha no horizonte, iluminando o
caminho daqueles que amo, inspirando-os a abraçar cada novo dia com alegria e
coragem.
Que essas lembranças nos unam e
nos fortaleçam, lembrando-nos de que o amor e a conexão transcendem as
fronteiras da vida e da morte.
Quando o tempo lançar suas sombras sobre as páginas da minha vida e eu me tornar uma memória, desejo que meus verdadeiros amigos guardem um lugar especial para mim em seus corações.
Ao longo dos anos, compartilhamos
risadas e lágrimas, sonhos e desafios, caminhando juntos pelas veredas da
existência. Foram esses momentos partilhados que pintaram os quadros de nossa
amizade e esculpiram as histórias que nos definem.
Quando o crepúsculo da vida chegar,
desejo que meus amigos verdadeiros se lembrem das aventuras que vivemos juntos,
dos segredos sussurrados ao vento, das conversas que perduraram até altas horas
da noite. Que encontrem nos sorrisos e abraços que compartilhamos uma lembrança
da alegria que fui capaz de trazer às suas vidas.
E mesmo quando a distância física
nos separar, que saibam que a essência da nossa amizade permanece inalterada.
Que as lembranças dos momentos que partilhamos sirvam como um farol a iluminar
seus caminhos nos momentos de solidão e incerteza.
Contudo, não tenho a cobiça de
que essas lembranças persistam por muito tempo, pois entendo que, na vida, tudo
é passageiro, como as águas dos rios que correm para o mar. Em minha ausência,
não desejo ser uma sombra eterna nos corações dos que amo.
É certo que as memórias são como
quadros pintados com cores vibrantes na tela de nossa existência, mas muitas
vezes carregam pinceladas de melancolia e tristeza. Reconheço que não há
lembranças imunes à dor.
Portanto, rogo ao tempo que seja
benevolente e rápido em desvanecer essas recordações. Que ele se assemelhe a
uma brisa suave que alivia as memórias, permitindo que a luz dos novos momentos
felizes prevaleça. Não desejo que aqueles que ficaram suportem o fardo de
tantas recordações, mas sim que encontrem novos caminhos e vivam a vida
plenamente.
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