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Mostrando postagens de outubro, 2025

A doce fraude do ganho fácil

Ultimamente, tenho a sensação de que o mundo virou uma grande startup. Acordo todos os dias esperando um investimento divino, um capital de risco celestial que transforme meu cotidiano em um caso de sucesso. Mas o máximo que consigo é fazer o café sem derramar. Enquanto isso, um rapaz de 19 anos cria um aplicativo que conecta pessoas que perderam meias e vende a ideia por bilhões. Não é inveja. É antropologia. Estou genuinamente fascinado por esse novo ecossistema em que tudo pode dar certo — menos o razoável. As grandes fortunas agora nascem do nada, florescem em semanas e se multiplicam como coelhos digitais. As empresas com séculos de história, fábricas, terrenos, navios, máquinas, pessoas — todas parecem figuras românticas de um passado artesanal. O futuro, ao que parece, pertence a quem não sua. E lá estou eu, assistindo a tudo, com a dignidade dos que ainda acreditam em currículos. Lembro do tempo em que o sucesso era um processo — e não um sorteio transmitido em tempo real. ...

A Pequena Vitória da Maturidade

A dor é impiedosa. Ela chega sem aviso, rasga nossas certezas e deixa feridas que parecem impossíveis de cicatrizar. Muitos atravessam a vida carregando sofrimentos que nunca se transformam, que apenas pesam em silêncio. E, mesmo quando a dor nos molda, não há garantia de alívio; a maturidade, se vier, chega tarde, como um consolo tímido e silencioso. Mas é na maturidade que talvez resida a pequena vitória que a dor nos concede. Ela não apaga a ferida, nem devolve o que se perdeu, mas nos oferece uma forma de olhar para a vida sem sermos completamente arrastados por ela. E, nesse espaço de sobrevivência, surge a possibilidade de escolha, de ternura, de perceber que, apesar das perdas, ainda há algo que podemos proteger — a nós mesmos e o que nos resta de vida.

O Território da Intimidade

Há um território que todos habitamos, mas que ninguém atravessa sem cuidado: o da intimidade. Um espaço sem mapa, onde se escondem pensamentos que não ousamos revelar, desejos que nos envergonham, memórias que guardamos apenas para nós mesmos. É um lugar silencioso, mas poderoso, pois é nele que nos definimos — não pelo que mostramos ao mundo, mas pelo que nos recusamos a mostrar. Agora, imagine que, de repente, esse território fosse invadido. Uma tecnologia capaz de penetrar nas mentes de todos, sem exceção, revelando tudo o que é mais íntimo. Por um tempo breve, talvez apenas alguns dias, nada poderia ser escondido. O que antes era segredo, a sombra pessoal que nos permitia caminhar entre os outros com alguma dignidade, tornaria-se visível. Cada pensamento, cada desejo, cada medo, exposto como se a alma fosse feita de vidro. O impacto inicial seria devastador. Palavras não ditas durante anos saltariam da mente de cada um como fogo. Olhares se cruzariam carregados de segredos que ...