Ultimamente, tenho a sensação de que o mundo virou uma grande startup. Acordo todos os dias esperando um investimento divino, um capital de risco celestial que transforme meu cotidiano em um caso de sucesso. Mas o máximo que consigo é fazer o café sem derramar. Enquanto isso, um rapaz de 19 anos cria um aplicativo que conecta pessoas que perderam meias e vende a ideia por bilhões.
Não é inveja. É antropologia. Estou genuinamente fascinado por esse novo ecossistema em que tudo pode dar certo — menos o razoável. As grandes fortunas agora nascem do nada, florescem em semanas e se multiplicam como coelhos digitais. As empresas com séculos de história, fábricas, terrenos, navios, máquinas, pessoas — todas parecem figuras românticas de um passado artesanal. O futuro, ao que parece, pertence a quem não sua.
E lá estou eu, assistindo a tudo, com a dignidade dos que ainda acreditam em currículos. Lembro do tempo em que o sucesso era um processo — e não um sorteio transmitido em tempo real. Hoje, o que separa a genialidade do anonimato é um algoritmo de humor variável. Basta estar no lugar certo, com o filtro certo, na hora em que o servidor não cai.
O mais curioso é que todos fingem entender como funciona. Os gurus do digital, esses novos sacerdotes do milagre escalável, nos explicam com serenidade o que é "disrupção" — e nós, humildes peregrinos, anotamos como se fosse o evangelho segundo o investidor-anjo. Mas, por dentro, sabemos: ninguém entende nada. O sucesso ficou tão rápido que nem tem tempo de se explicar.
Às vezes, penso que talvez o problema seja eu. Talvez o mundo não tenha ficado absurdo — talvez eu tenha ficado lento. Meus sonhos ainda obedecem a uma lógica de etapas, de amadurecimento, de acúmulo. É um jeito antigo de sonhar. Hoje, sonha-se com atalhos. O mérito virou uma espécie de inconveniente moral. Quem precisa de esforço quando se pode viralizar?
E, no entanto, há algo de poético nesse caos. A internet democratizou o impossível. Qualquer um pode se tornar tudo — ou nada — em questão de minutos. É a revolução mais democrática da história: todos têm a mesma chance de não serem notados.
De vez em quando, confesso, eu também tento. Abro uma conta, posto uma frase espirituosa, uma foto casualmente pensada, uma opinião moderadamente polêmica. Depois espero. Nada acontece. O algoritmo, talvez sensível ao tédio, passa por mim com a gentileza de quem finge não ver um conhecido na rua.
Mas ainda acredito que existe uma beleza nos que continuam tentando por meios arcaicos: o estudo, o trabalho, a persistência. Somos os dinossauros da dignidade produtiva, pastando serenamente enquanto os meteoros do sucesso instantâneo cruzam o céu.
E assim sigo tentando. Nunca se
sabe. Talvez um dia tropece na genialidade por engano, como quem acha uma moeda
no chão. Até lá, continuo firme: produzindo meu próprio fracasso artesanal,
feito à mão, sem algoritmos, com o suor honesto da irrelevância.

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