Todo relacionamento a dois é baseado em um contrato. Não me refiro aqui a uma formalização escrita e legal da união, mas sim ao pacto não escrito que se forja ao longo da relação. Esse contrato subjacente, por sua natureza, é dinâmico e constantemente passível de revisão e renovação. Contudo, é nos primeiros anos da união que a tarefa de escrever esse contrato se desenrola com maior efervescência, quando a folha em branco da compreensão mútua mal foi preenchida.
Digo que "mal foi preenchida",
pois, idealmente, pressupõe-se que algumas linhas básicas já tenham sido
esboçadas durante o período anterior à união, quando o casal se conheceu e
compartilhou experiências. A ausência ou a precariedade desses traços iniciais,
caso ocorram, pode impor desafios adicionais à relação. Quando tais linhas se
fazem presentes e nitidamente definidas, o casal encontra uma bússola mais
sólida para orientar a elaboração dos capítulos básicos e iniciais desse
contrato tácito.
Os primeiros anos de um
relacionamento a dois, compreensivelmente, se revelam como um desafio singular,
pois os parceiros se deparam com a carência de um referencial comportamental sólido
pré-estabelecido. A responsabilidade de forjar alicerces para a união pode se
mostrar intimidadora, uma vez que a vida a dois, mesmo numa fase inicial, demandará
a tomada de decisões e a adoção de atitudes, sem a presença de regras objetivas
para lhes guiar.
Passam-se alguns anos até que o
casal tenha delineado um contrato fundamental que lhes ofereça uma base sólida
para agir sem gerar conflitos significativos. Durante o desenvolvimento deste
contrato inicial o casal enfrenta momentos de tensão, o que é natural, visto
que ambos são levados a abrir mão de parte de sua liberdade pessoal e a
explorar os limites nos quais o outro está disposto a fazer concessões.
Outro aspecto do contrato que
pode gerar tensões é a definição das responsabilidades individuais, incluindo
as relacionadas à manutenção financeira da casa. É essa tensão subjacente, na
busca por estabelecer limites e responsabilidades, que inevitavelmente cria
atritos na relação. Esse processo deve ser equilibrado. Um contrato inicial de
relacionamento fundamentado no equilíbrio tem maior probabilidade de se manter
estável e duradouro, com tensões menos intensas. Por outro lado, contratos
desequilibrados tendem a não prosperar ou a resultar em uma vida a dois menos plena.
Como mencionado anteriormente, o
contrato do relacionamento está sujeito a revisões contínuas, mesmo após a
criação do acordo fundamental nos estágios iniciais da relação. Embora esse
processo de revisão ocorra de maneira mais fluida após a construção sólida do
contrato inicial, existem momentos na vida em que o casal é chamado a realizar
uma revisão significativa do contrato existente. O nascimento do primeiro filho
traz consigo novas responsabilidades e restrições que precisam ser
incorporadas, enquanto outras partes do contrato necessitam de revisão.
Novamente, a tensão emerge e a renegociação equilibrada do pacto existente é a
chave para manter o relacionamento em seu pleno desenvolvimento.
Posteriormente, o casal se
encontra mais uma vez na fase de negociação intensa à medida que seus filhos
começam a sair de casa. Esse período pode ser marcado por tensões, uma vez que
o casal se encontra sozinho novamente após dedicar longos anos à criação dos
filhos. O contrato básico original não pode ser ressuscitado, pois as circunstâncias
e os sentimentos evoluíram ao longo do tempo.
Um relacionamento a dois,
evidentemente, não se resume à construção de um contrato. O acordo é construído
em paralelo à dinâmica da vida do casal, que é feita de sentimentos, prazer,
dor, conquistas e frustrações, enfim, de todas as coisas que são inerentes à
condição humana.
Entretanto, no cerne de um
relacionamento significativo, encontra-se o poder transformador do amor. O amor
é a força que permeia cada momento compartilhado, infundindo-o com significado
e profundidade. Ele é a cola que une o casal, mesmo quando a construção do
contrato do relacionamento está em progresso. O amor emerge como um aliado
valioso, oferecendo suporte nos momentos difíceis e atuando como um catalisador
para a compreensão mútua.
O amor é a essência que evita que
o relacionamento se desfaça nos momentos em que a tensão atinge seus limites.
Quando a vida impõe obstáculos no caminho, quando as diferenças parecem
insuperáveis e quando a paciência é testada até o limite, é o amor que faz com
que os parceiros se lembrem do porquê escolheram construir um futuro juntos. É
a âncora que impede que o barco do relacionamento seja arrastado para águas
turbulentas. No entanto, embora o amor seja vital, ele também é complementado
pelo processo contínuo de negociação e construção do contrato do
relacionamento.
Em síntese, a vida a dois é uma
jornada marcada pela construção constante de um contrato não escrito, que se
adapta e evolui ao longo do tempo. Desde o início do relacionamento, quando a
folha em branco da compreensão mútua começa a ser preenchida, até as fases de
renegociação, quando os filhos saem de casa e o contrato é reavaliado, a
dinâmica do amor e da compreensão desempenha um papel fundamental.
No entanto, é importante
reconhecer que o amor, embora seja a essência que mantém o relacionamento
unido, não é o único elemento em jogo. A negociação bem equilibrada, a
definição de responsabilidades e limites claros e a comunicação aberta também
desempenham papéis cruciais na manutenção de um contrato de relacionamento
saudável e duradouro.
À medida que os casais enfrentam
desafios, superam obstáculos e evoluem juntos, eles continuam a escrever
capítulos na história de seu relacionamento. Essa jornada não é apenas sobre o
amor, mas também sobre a parceria, a cumplicidade, o comprometimento e a
construção mútua. E, ao encontrar o equilíbrio entre todos esses elementos, os
casais podem continuar a trilhar um caminho de crescimento e realização,
mantendo viva a chama do amor que os uniu desde o início.
Comentários
Postar um comentário